Engolidos pelo tubarão de Messina

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O troféu do Giro de Itália é um dos mais lindos do mundo. Mas ele poderia ser ainda mais bonito se não fossem tão flexíveis aquelas hastes curvadas que moldam toda a sua beleza e diferenciação dos demais. Essa possível fragilidade só pôde ser percebida por quem não está perto dele em Turim devido à forma como o campeão da nonagésima nona edição da prova segurou o cobiçado prêmio. A força excessiva que Vincenzo Nibali usava pode até ser muito bem compreendida, afinal o tubarão de Messina estava mais para um peixe fora d´água na última semana da competição do que para um devorador dos mares, porém ainda faminto para conseguir engolir os seus maiores rivais na disputa.

Antes da décima quinta etapa, Nibali tinha uma desvantagem de apenas 41 segundos na classificação geral do Giro de Itália de 2016. Depois disso a diferença pulou para mais de dois minutos e, logo iria aumentar cada vez mais. Depois de erguer a taça, o italiano revelou que não estava se sentindo bem naquele dia, mas que não poderia ter dito isso porque não poderia alertar seus adversários. Os jornais não quiseram saber e o que não faltou foram as criticas. O ciclista talvez pudesse se empenhar mais para quem sabe 'calar a boca' de quem fala mal dele, mas ele sabe que sua carreira já era consagrada com pelo menos um título em cada uma das três principais voltas ciclísticas do mundo.

Ele já venceu a Volta da Espanha, o Tour de France e já havia sido campeão do Giro de Itália em 2013. É claro que vencer novamente seria incrível, mas ele estava mal e ninguém sabia. Então Vincenzo Nibali, já com o belo e frágil troféu nas mãos, fez outra revelação. Sem chances de título, ele passou a correr mais solto e despreocupado, tudo isso depois de ter pensado em abandonar a competição. Se tivesse abandonado um outro ciclista teria ganhado. E não teria sido aquele cujo tempo tirava a esperança do italiano, pois este era um holandês que viu um paredão de neve acabar com as suas esperanças de glórias.

A nonagésima nona edição do Giro de Itália poderia ter sido a centésima. Foi memorável e emocionante. Disputas de contra relógio com vencedores marcando o mesmo tempo. Mudanças constantes no dono da maglia rosa. Indefinição até o penúltimo dia de competição. O holandês Steven Kruijswijk tinha três minutos de vantagem antes da etapa 19, mas na descida viu um paredão de neve no seu caminho, saiu voando e viu seu sonho de ser campeão criar asas a sumir no horizonte sem fim. Esteban Chaves é da Colômbia e não do México, mas assumiu a ponta e lembrou Roberto Gomes Bolaños. Mas lá na frente quem havia vencido a etapa era o tubarão de Messina, e agora ele estava pronto para engolir os seus rivais.

O sábado veio com esperanças colombianas e solidez italiana. Faltou perna para El Chavo del ocho, sobrou jogo de equipe para Tanel Kangert e Michele Scarponi. Os escudeiros conduzem e o líder faz o resto, abre vantagem na penúltima subida e controla tudo na técnica descida. Vincenzo Nibali havia perdido as esperanças, mas soube esperar a hora certa para dar o bote certeiro. O tubarão de Messina engoliu Kruijswijk na antepenúltimo dia e devorou Chaves no penúltimo. Em Turim fez o passeio da glória, com o belo e frágil troféu, segurando com força para não soltar mais, pois este agora é seu e ninguém mais poderá tirá-lo.

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