O jogo de beisebol que não queria acabar

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Jogo 3 da World Series 2025
O relógio marcava 6 horas e 39 minutos quando a bola, impulsionada pelo taco de Freddie Freeman, finalmente cruzou a cerca do campo central. Eram as primeiras horas da manhã de terça-feira, e o que começou como o Jogo 3 da World Series entre o Los Angeles Dodgers e o Toronto Blue Jays na noite de segunda-feira havia se transformado em uma maratona épica, um acontecimento de proporções quase míticas que desafiou a própria duração do tempo no esporte.

O beisebol, sempre o mais estoico e atemporal dos jogos americanos, parou os corações e suspendeu o sono de milhões de fãs. Testemunhamos não apenas uma partida, mas uma verdadeira odisseia de 18 entradas, um feito que iguala o jogo de pós-temporada mais longo da história. O espanto diante de tal longevidade é inevitável. Como é possível que atletas de elite mantenham tamanha intensidade, arremesso após arremesso, rebatida após rebatida, por um período que, em tempos modernos, equivale a quase três jogos completos?

Este não foi um jogo, foi uma vigília. Uma demonstração de resistência e obstinação quase inacreditáveis de dois times determinados a não ceder. Arremessadores — a espinha dorsal de qualquer equipe — foram usados e descartados, com o bullpen dos Dodgers se esgotando até o último homem, Will Klein, que entregou quatro entradas impecáveis, jogando o dobro de arremessos do seu recorde anterior na liga principal. O que isso diz sobre a força de vontade humana? Que quando os holofotes do maior palco estão acesos, a exaustão se torna um conceito abstrato.

E então, apareceu Shohei Ohtani. O "Unicórnio", como é carinhosamente chamado, que mais uma vez reescreveu os livros de história com dois home runs e uma série de rebatidas que culminaram em um recorde de nove vezes chegando em base. Naquele momento, ele não era um jogador de beisebol, mas uma força da natureza, sua performance se tornando o centro gravitacional de uma noite que parecia se estender até a eternidade.

Mas o final pertenceu ao seu companheiro, Freddie Freeman. Liderando a 18ª entrada, com o estádio envolto em um silêncio tenso e inverossímil, ele confrontou o canhoto Brendon Little. Na contagem máxima, um sinker de 406 pés voou para o centro, selando a vitória dos Dodgers por 6-5. O rugido que se seguiu não foi apenas de alegria, mas de alívio extasiado pelo fim do que o técnico Dave Roberts chamou, com razão, de "um dos maiores jogos de todos os tempos".

Sete anos depois de outro Jogo 3 da World Series no Dodger Stadium que também se arrastou por 18 entradas — aquela vez, vencido por Max Muncy — a história se repetiu em um espiral de ironia atemporal. Essa partida lendária agora se junta aos clássicos imortais, um testemunho de que, mesmo em uma era de limites de arremessos e análises detalhadas, o beisebol ainda pode entregar um espetáculo de resistência, drama e encantamento que desafia o calendário e a capacidade de qualquer um de nós de acreditar no que acabamos de ver.

O Sol da manhã mal havia nascido quando os últimos ecos da multidão se dispersaram, deixando para trás o legado de um jogo que, francamente, parecia nunca ter fim.

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