Sorteio e expectativa para a Copa 2026

10:27 Net Esportes 0 Comments

Chegamos finalmente no tão aguardado dia cinco de novembro de 2025 que carrega consigo a aura de expectativa que antecede todo grande evento do futebol mundial: o Sorteio para a Copa do Mundo FIFA 2026. Contudo, desta vez, a tradicional cerimônia que define os caminhos e embates entre nações assume um contorno de inédita magnitude e, inegavelmente, de controvérsia.

A próxima edição do torneio não será apenas a primeira a ser sediada por três países — Canadá, Estados Unidos e México —, um feito geográfico e logístico sem precedentes; ela será marcada, sobretudo, pelo aumento expressivo no número de seleções participantes, saltando das 32 habituais para 48.

Esta mudança arquitetônica no formato da Copa do Mundo, a maior desde 1998, convida a uma análise crítica e ponderada. O discurso oficial da FIFA, naturalmente, versa sobre a globalização do futebol e a ampliação de oportunidades para mais nações experimentarem o palco máximo. É um argumento sedutor, que ecoa o desejo universal de inclusão e representatividade. No entanto, é imperativo questionar se essa expansão é intrinsecamente benéfica para o espetáculo e para a qualidade técnica da competição.

Com 48 equipes distribuídas em 12 grupos de quatro, o torneio passará a contar com um número vertiginoso de 104 jogos — quase o dobro dos 64 confrontos do modelo anterior. O campeão, agora, terá de disputar oito partidas, uma a mais do que o exigido historicamente. A maratona de jogos, a dilatação do calendário e a inevitável introdução de seleções de um patamar técnico inferior nas fases iniciais levantam a suspeita de uma potencial diluição da excelência. O charme da fase de grupos sempre residiu, em parte, na alta concentração de talento e na escassez de espaço para o erro; a nova estrutura arrisca transformar essa etapa num preâmbulo excessivamente longo antes que os verdadeiros titãs se enfrentem.

É aqui que a ótica financeira entra em cena, inevitavelmente. Um aumento de 33% no número de participantes resulta em um acréscimo substancial nos direitos de transmissão, na venda de ingressos, nas receitas de patrocínio e em todo o ecossistema comercial que orbita o evento. É, para usar um termo do mercado, uma inflação do produto. Diante de tal dimensão econômica, o questionamento torna-se agudo e quase obrigatório: estaria a FIFA priorizando a expansão da receita sobre a integridade esportiva e a qualidade intrínseca do torneio?

A Copa do Mundo é, por definição, o ápice da competição futebolística. A dificuldade em se classificar e o rigor da disputa sempre foram elementos cruciais para a mística que a cerca. A facilitação do acesso, por mais democrática que soe, ameaça atenuar o caráter exclusivo e de elite que historicamente definiu a competição.

Enquanto aguardamos que as bolinhas revelem o destino das 48 seleções, a comunidade do futebol se divide entre o otimismo pela novidade e a cautela ante a descaracterização. Se, por um lado, mais países terão a chance de viver o sonho, por outro, paira a sombra de um torneio que, ao buscar ser maior em dimensão, corre o risco de ser menor em emoção, técnica e significado, consolidando-se mais como uma gigantesca operação comercial do que como a competição de excelência que o mundo aprendeu a amar. O futuro, a ser revelado nos gramados de três nações em 2026, dirá se a busca pela expansão numérica foi um gol de placa ou um chute para fora.

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