O Adeus à Matthews Arena, em Boston

No coração da metrópole de Boston, onde a história se entrelaça com o fervor esportivo, ergue-se um monumento silencioso prestes a se despedir: a Matthews Arena. Inaugurada em 1910, sob o nome de Boston Arena, esta edificação não é apenas um local de jogos, mas um templo do esporte e da cultura americana, ostentando o título de arena multiuso em operação contínua mais antiga do mundo e lar da pista de gelo artificial coberta mais antiga.

Sua história ultrapassa um século, testemunhando e moldando o desenvolvimento de modalidades que se tornaram paixão nacional. Foi aqui que o Boston Bruins disputou seu primeiro jogo em casa em 1924, e o Boston Celtics realizou sua partida inaugural em 1946, cravando as raízes de duas das franquias mais icônicas do esporte profissional. As paredes vitorianas da arena viram nascer o lendário torneio de hóquei universitário, o Beanpot, e serviram de berço para potências do hóquei colegial como Boston College, Boston University, Harvard e a própria Northeastern University, que se tornaria sua proprietária em 1979 e lhe daria o nome de Matthews Arena em 1982, em homenagem a George J. Matthews, formando '56, e sua esposa, Hope M. Matthews. Seu palco não se limitou ao gelo e à quadra; foi tablado para lendas do boxe como Jack Dempsey e Joe Louis, e templo para a patinação artística com campeões olímpicos como Sonja Henie e Nancy Kerrigan.

Além disso, acolheu discursos presidenciais e shows de ícones da música, de Bob Dylan a Johnny Cash, demonstrando sua relevância multifacetada para a comunidade. A celebração do centenário em 2009 trouxe renovações, modernizando suas instalações sem descaracterizar seu rico patrimônio histórico. Contudo, como toda boa história, a da Matthews Arena também chega a um epílogo. O anúncio de seu encerramento e demolição, programada para se iniciar em fevereiro, marca o fim de uma era. A motivação por trás desta decisão da Northeastern University reside na necessidade imperativa de uma infraestrutura moderna e de ponta, mais adequada aos padrões atuais do esporte universitário e às demandas de um campus em crescimento, com a previsão de uma nova instalação state-of-the-art para 2028, que será o maior espaço coberto para reuniões da universidade.

As consequências deste adeus são de natureza agridoce: embora abra caminho para o futuro, representa uma perda inestimável para a memória afetiva de Boston e do esporte. Para atenuar este impacto, há o esforço em preservar artefatos e a promessa de que a alma do local viverá nos novos projetos. Este fim de semana, porém, o foco reside no presente, na última salva de honra. O evento derradeiro na pista de gelo, que fechará as cortinas de uma história de 115 anos, será um confronto de hóquei masculino, um embate pela Hockey East entre os anfitriões, Northeastern Huskies, e o rival de longa data, Boston University (BU), neste sábado, dia 13 de dezembro de 2025. Após o apito final, uma cerimônia no gelo selará o adeus a esta "catedral do esporte", honrando a profunda e inigualável marca que a Matthews Arena deixará no mundo.

A Ousadia de Lindsey Vonn contra o Tempo

No grande palco das lendas esportivas, raramente testemunhamos o retorno de um ícone que, após ter aceitado a finitude de sua carreira, decide reescrever o próprio epílogo. Lindsey Vonn, a esquiadora americana que dominou as montanhas geladas por quase duas décadas, protagoniza agora um dos capítulos mais fascinantes da história recente dos esportes de inverno. Cinco anos após uma despedida emocionada e dolorosa, motivada por um corpo que já não suportava as exigências da gravidade e da velocidade, Vonn anunciou seu retorno às competições. O objetivo, audacioso e para muitos inverossímil, é integrar a equipe dos Estados Unidos nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2026, em Milão-Cortina, quando terá completado 41 anos de idade.

Este retorno não é apenas um capricho de uma atleta saudosa da adrenalina, mas sim o resultado de uma transformação física e médica surpreendente. Quando Vonn se aposentou em 2019, o fez rendida às lesões; seus joelhos, castigados por anos de descidas vertiginosas a mais de 130 km/h, não possuíam mais cartilagem, transformando a simples ação de esquiar em um calvário. Entretanto, uma cirurgia de substituição parcial do joelho, realizada com sucesso, devolveu-lhe uma qualidade de vida que parecia perdida. A atleta relata que, pela primeira vez em anos, consegue esquiar sem dor, um fator determinante que reacendeu a chama competitiva. Não se trata, portanto, de uma luta contra o passado, mas de uma exploração das novas capacidades de um corpo reconstruído pela medicina e temperado por uma vontade interminável.

O desafio, contudo, é grandioso. Competir em alto nível no esqui alpino, uma modalidade que exige reflexos instantâneos, força explosiva e uma resistência articular sobre-humana, é tarefa árdua para jovens de vinte anos, quanto mais para uma veterana que cruzará a barreira dos quarenta. Ainda assim, Vonn já demonstrou nos treinos recentes que a técnica apurada, aquela que lhe garantiu 82 vitórias em Copas do Mundo — um recorde feminino que permaneceu inabalável até ser superado recentemente por Mikaela Shiffrin —, permanece intacta. A memória muscular de uma campeã olímpica, dona de três medalhas nos Jogos e quatro títulos gerais da Copa do Mundo, parece ignorar o hiato de meia década longe dos portões de largada.

A carreira pregressa de Lindsey Vonn já a colocava como uma das maiores esquiadoras de todos os tempos. Sua dominância nas provas de velocidade, especialmente no Downhill e no Super-G, redefiniu os parâmetros do esporte feminino, aliando uma agressividade técnica ímpar a uma consistência poucas vezes vista. Ela acumulou Globos de Cristal e superou fraturas, rompimentos de ligamentos e concussões, sempre retornando ao topo do pódio. Agora, ao buscar uma vaga para sua quinta Olimpíada, Vonn não tenta apenas ampliar um currículo já dourado; ela desafia a lógica biológica do esporte de alto rendimento. Se conseguir alinhar no portão de largada em 2026, ela não estará apenas competindo contra o relógio ou contra adversárias com metade de sua idade, mas estará provando que a paixão e a resiliência podem, de fato, estender as fronteiras do que consideramos possível para o corpo humano. Independentemente do resultado, a simples tentativa de Lindsey Vonn já solidifica seu status não apenas como uma lenda do esqui, mas como um símbolo atemporal de perseverança.

Revista Sports Illustrated resiste ao tempo

Em uma era dominada pela voracidade dos algoritmos e pela natureza efêmera das atualizações em tempo real, a persistência da mídia impressa soa, muitas vezes, como um ato de resistência nostálgica. No entanto, poucas publicações ilustram essa resiliência com a magnitude da Sports Illustrated. Mais do que um simples periódico sobre competições esportivas, a revista consolidou-se, desde sua fundação em 1954, como uma instituição cultural, um espelho da sociedade americana e, por extensão, do culto global ao esporte. A sua sobrevivência no turbulento oceano digital não se deve apenas à inércia de seu legado, mas à profundidade com que narrou a epopeia humana através do esforço físico, transformando jogos de fim de semana em mitologia moderna.

A gênese da publicação, idealizada pelo magnata Henry Luce, do grupo Time-Life, foi recebida inicialmente com ceticismo. À época, o jornalismo esportivo era considerado uma subcategoria intelectual, indigna da "alta cultura". A Sports Illustrated desafiou essa premissa ao elevar a cobertura esportiva ao patamar de literatura, empregando uma prosa refinada e uma fotografia que capturava não apenas a ação, mas a emoção crua e a estética do movimento. Durante décadas, a revista não se limitou a informar quem venceu ou perdeu; ela explicava o porquê, dissecando a psicologia dos vencedores e a agonia dos derrotados, estabelecendo um padrão de narrativa longa que se tornou sua assinatura.

Central para a mística da revista foi a sua capa, um espaço que sempre foi além do papel para se tornar um território de consagração. Estampar a capa da SI equivalia, para um atleta, a um rito de passagem, uma confirmação de que sua relevância havia ultrapassado as quatro linhas do campo para habitar o imaginário popular. Figuras como Michael Jordan, Muhammad Ali e Tiger Woods não apenas apareceram nessas capas, mas tiveram suas narrativas moldadas por elas. A revista possuía o poder de criar ídolos instantâneos e, segundo a lenda urbana, até de amaldiçoá-los — a famosa "maldição da capa" —, o que apenas reforçava sua influência supersticiosa e inegável sobre o mundo esportivo.

Contudo, a história da Sports Illustrated não pode ser contada sem mencionar um de seus capítulos mais lucrativos e culturalmente discutidos: a edição Swimsuit. Lançada originalmente em 1964 como uma estratégia para preencher o vazio editorial nos meses de inverno, quando o calendário esportivo era escasso, a edição de trajes de banho transformou-se em um fenômeno à parte. O que começou com modelos em locações exóticas evoluiu para refletir as mudanças nos padrões de beleza e empoderamento feminino. Nas últimas décadas, a publicação rompeu barreiras ao incluir atletas de elite — de tenistas como Serena Williams a lutadoras como Ronda Rousey e estrelas do futebol como Alex Morgan — posando em biquínis. Essa fusão celebrou a dicotomia entre a força atlética e a estética, validando o corpo da atleta não apenas como uma máquina de performance, mas como um ícone de beleza e confiança.

A transição para o século XXI, todavia, impôs desafios severos. A crise do impresso e a ascensão da internet desmantelaram o modelo de negócios que sustentou a revista por meio século. A Sports Illustrated enfrentou vendas, demissões em massa e trocas de propriedade que ameaçaram sua existência. A informação, que antes era exclusividade de suas páginas semanais, tornou-se "commodity" gratuita nas redes sociais. Ainda assim, a marca resiste. Ela sobrevive não por tentar competir com a velocidade do Twitter, mas por oferecer o que o digital raramente consegue: curadoria, prestígio e profundidade. Em um mundo de fragmentos, a SI permanece como uma guardiã da memória esportiva.

Portanto, a continuidade da Sports Illustrated nos tempos atuais é um testamento de que, mesmo na era do pixel, há um desejo humano pela tangibilidade da história bem contada. Seja através de suas reportagens investigativas premiadas, de suas capas icônicas que congelam o tempo, ou da celebração da forma física na edição Swimsuit, a revista mantém-se como um bastião. Ela nos lembra que o esporte é uma das poucas linguagens universais e que, enquanto houver heróis para serem celebrados e histórias para serem escritas, haverá espaço para a autoridade de quem transformou o jornalismo esportivo em arte.