Na NBA não é permitido reverter um 3 a 0
O jovem torcedor levou as mãos a nuca e parecia estar puxando fundo todo o ar que poderia para alcamar a dor da angustia que atormentava profundamente o seu coração. Ele não estava sozinho e pouco antes gritou com toda a sua força junto a quase 19 mil pessoas alucinadas que lotaram o TD Garden, em Boston. Um povo que a pouco tempos atrás sentiu na pele as marcas que o terrorismo pode proporcionar, tragédias que não perdoam nem mesmo o esporte, danos gigantescos que só podem mesmo serem amenizados pela mais pura e siblime emoção do próprio esporte. Que por sua vez também tem o seu lado triste porque para alguém ganhar, um outro tem que perder. Só que perder mostrando força e garra para pelo menos cair de pé, demonstrando de alguma forma que o impossível ainda parecia provável.Impossível para alguns, realidade para outros. Até hoje só aconteceu quatro vezes, e no beisebol foi apenas uma. O provilégio é do hóquei no gelo, da NHL. Por lá foram três ocorrências, sendo a mais recente em 2010 quando o Boston Bruins caiu diante do Philadelphia Flyers após ter vencido os três primeiros jogos. Não é nada normal reverter três jogos de desvantagem, só havia acontecido nas finais de 1942 e na segunda rodada de 1975. Os playoffs são assim, geralmente favorecem os mais fortes e raramente dão chances aos mais fracos. Se um time abre 2 a 0 ele fatalmente vence. Se faz 3 a 0 sempre vence. A MLB jamais havia visto alguém reverter 3 a 0 até 2004, quando o Boston Red Sox alcançou a façanha diante do New York Yankees. Foi a primeira e única vez que isso aconteceu no beisebol, mas na NBA não é permitido.
O jogo termina e os torcedores vestidos de verde e branco sorriem ao invés de se lamentarem. Aliviados porque os terroristas foram mortos ou presos, tranquilos porque nenhuma bomba explodiu ou simplesmente felizes porque o Red Sox lidera sua dividão na Liga Americana com 20 vitórias e nove derrotas. Ou talvez eles pensem que este é apenas mais um ano e a sua gloriosa equipe já faturou o título 17 vezes em toda a história. Pode ser um contentamento tardio pelo jogo quatro da série, ocorrido ali mesmo naquela arena e vencido apenas na prorrogação. A esperança de reverter a desvantagem de 3 a 0 tinha começado e ela continuaria quando uma vitória tranquila ocorreu no jogo cinco, fora de cada, lá no lendário Madison Square Garden. O empate esteve tão longe e de uma hora para outra ficou perto, os playoffs são sempre assim, inesperados, alucinantes, simplesmente emocionantes.
Nem 50 pontos o Boston Celtics havia marcado quando o quarto período começou. O massacre da serra elétrica era eminente, mas Kevin Garnett e Paul Pierce estavam prontos, para ao lado de seus jovens companheiros, estrelarem a próxima temporada de "The Walking Dead". Como verdadeiros zumbis renascidos do inferno eles deram a esperança ao seu torcedor novamente depois que ela já havia sido perdida. A equipe perdia por vinte e seis pontos e conseguiu a mais incrível façanha de marcar vinte pontos seguidos sem sofrer nenhum. Haviam apenas seis pontos de diferença e alguns minutos no relógio para mudar uma história que parece não querer mudar jamais. Havia ainda muito chão pela frente, mais um jogo fora de casa e um fato que não ocorre no melhor basquete do mundo. Na NBA é proibido.
Foram 13 anos de espera. Quando eles comemoram os 40 anos do segundo de apenas dois títulos de sua história. Os braços e as pernas doem, o receio de sofrer um revés impossível preocupava qualquer um, mas finalmente o New York Knicks passou para a segunda rodada dos playoffs da NBA. Tinha tudo para ser uma varrida, tinha tudo para ter sido em casa no jogo cinco, poderia ter sido de uma forma que seu rival não tivesse esperanças em fazer o que jamais foi feito, mas nada disso aconteceu. Não foi como o planejado, mas pelo menos foi. O Knicks segue em frente querendo agora passar pelo Pacers e medir suas forças com o poderoso Heat. O Celtics sai de cena e pensa agora no seu futuro, com a certeza de que fizeram o seu melhor, que deram esperanaçs ao seu torcedor e que caíram de pé, pois apenas não conseguiram fazer que não é permitido na NBA.
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