Fernando Alonso tem o santo forte

11:25 Net Esportes 5 Comments

Fernando Alons GP da Malásia 2012São Domingos de Val, excelente para um dia de domingo. Ou seria Teresa Juliana de São Domingos, a professora de catecismo que morreu no dia 6 de dezembro de 1748, em Salamanca, na Espanha. Seja santo ou santa, eles protegem e ajudam Fernando Alonso como ninguém, religiosos espanhóis guiando por caminhos retos o piloto que salva a pele da equipe Ferrari na Fórmula 1 em 2012. Um ano onde todos imaginavam a Red Bull mantendo o domínio, achavam que a McLaren seria o carro a ser batido ou que a Mercedes iria andar bem. Um ano onde o time italiano do cavalinho rampante não teria a menor chance nem de vencer uma ou outra corrida, mas o santo é forte, a qualidade do piloto indiscutível e as condições que só mesmo a Malásia pode oferecer se tornando extremamente ideiais para milagres como este acontecerem.

Eu afirmava, baseado no resultado da última corrida na Austrália onde a MacLaren mostrou sua força, que Fórmula 1 é carro e a disputa é restrita. Exceto por não ter acontecido uma dobradinha, ficou claro e continua assim (pelo menos em condições normais de corrida, isso significa sem muito calor e principalmente sem chuva), que a McLaren domina em 2012. O domínio pode até não ser como o da Red Bull no ano passado, principalmente pela igualdadade na capacidade dos seus dois pilotos, mas eles seguem com tudo para serem campeões. Havia, no entanto, uma ressalva quanto a diferença que o bom piloto em um carro restrito poderia fazer. Em 1992 e 1993 Ayrton Senna venceu oito corridas, na época em que ninguém podia contra os carros da equipe Williams.

Muitas das vitórias de Senna naqueles dois anos foram em condições normais de pista. Mas quando as condições são adversas o bom piloto que não está no melhor carro do ano tende a mostrar todo o seu talento. Choveu no GP Brasil de 1992. Choveu também no GP da Malásia de 2012; E quando é não chove no GP da Malásia que acontece no final da tarde em uma época do ano que sempre chove no final da tarde? Button é ruim de chuva? Não. Hamilton é? Também não. Vettel ou até mesmo Schumacher largando em terceiro? Não, para alguns desses os problema foi a Hispânia, que é um dos grandes problemas da Fórmula 1 hoje. E como explicar Sérgio Perez na frente? Fácil, a Sauber teve seu carro apontado até como melhor do que a Ferrari. E Alonso? Esse é aquele chato de quem ninguém gosta, mas todos são obrigados a engolir como engoliram Zagallo na final da Copa América de futebol.

Fernando Alonso e seu carro ruim assumem a liderança porque deram sorte nas paradas agiadas nos boxes quando a corrida voltou após paralisação por bandeira vermellha, quando a chuva desabou em Sepang. Alonso é líder porque pilota bem e ultrapassa o novato mexicano e seu carro que anda melhor do que a Ferrari nesse ano, uma Sauber. Alonso ruma para a vitória porque a chuva não voltou mais, porque ele sabe mostrar que carro bom na Fórmula 1 ganha título, mas não impede carros ruins com bons pilotos de vencerem corridas, principalmente corridas atípicas, molhadas e bagunçadas. Fernando Alonso vence o GP da Malásia porque seja João da Cruz ou Joaquina de Vedruna, o seu santo é muito forte. Na Austrália ele era perseguido por Maldonado e o venezuelano bateu. Na Malásia Pérez vinha colocado e errou, saiu da pista e se contentou com o segundo lugar. A competência é grande, mas a sorte está ao seu lado também.

Fernando Alonso faz o impossível acontecer, faz um milagre como fez Santa Eulália de Barcelona, mas Sergio Pérez também escreve a história na Malásia. Um mexicano não subia no pódio em segundo lugar desde Pedro Rodríguez na Holanda em 1971. Foi do mesmo Pedro a última vitória de um representante da terra do sombreiro. A Sauber então, que viu seu fundador Peter Sauber ir às lágrimas, quase chegou à sua primeira glória sendo apenas Sauber, já que quando era BMW venceu com Kubica. O problema foi talvez o pequeno deslize de Pérez, justamente quando a equipe lhe dizia para segurar a segunda colocação e não tentar vencer. Disseram para ele fazer o que para muitos deveria ter feito Pastor Maldonado na última corrida, um grande absurdo, já que na minha opinião bater o carro tentando algo maior do que está conseguindo é uma catástrofe normal por falta de sorte como quebrar o motor, por exemplo, justamente o que ocorreu com Maldonado nesta corrida, mais uma boa corrida do venezuelano por sinal.

Agora, mesmo que isso seja apenas uma ilusão como ver Constança de Hohenstaufen passeando pelas ruas de Valência, Fernando Alonso lidera o campeonato. O espanhol tem cinco pontos a mais que Lewis Hamilton, novamente o terceiro colocado, só que com um sorriso no rosto quando subiu ao pódio, afinal não era seu companheiro de equipe que estava no degrau mais alto, sem degrau no bico. Isso significa apenas uma coisa: o que vale hoje na Fórmula 1 dos 25 pontos para o vencedor é justamente a vitória. Uma vitória e um quinto lugar é melhor que dois terceiros, um pódio deixa um piloto na frente do que fez dois pódios. O problema é que os santos não estarão sempre à disposição do piloto bom com carro ruim, o problema é que os carros bons voltarão a dominar. A McLaren, a Red Bull ou Mercedes talvez, e por que não a Sauber? Afinal Alonso provou que o impossível pode ser possível. (Foto: AFP PHOTO / Saeed KHAN

5 Comentários:

Marcelonso disse...

E bota forte nisso...

El Fódon mesmo a bordo dessa trapizonga vermelha, viu a oportunidade e aproveitou.

Vitória histórica, digna de uma estátua em Maranello. Porque vencer com aquele troço, olha o cara precisa ser muito bom.


abs

Ron Groo disse...

Todo mundo sabe que eu não curto Alonso, mas está difícil não se render ao talento e a velocidade do cara.
Poxa, esta Ferrari é um caminhão e, tendo sorte ou não, ele venceu.

Melhor que ele só o Perez hoje, mas... Quem venceu foi ele.

Se eu tivesse ficado acordado pra ver a corrida seria chata pra cacete, nada ia acontecer, mas não... fui dormir e aconteceram duelos dignos do Enduro Racing do Atari...

Anônimo disse...

Foi uma vitória pra acabar com quem ainda duvidava de Alonso como um dos grandes. E pra enterrar de vez Felipe Massa na Ferrari pra 2013.

Porém tem uma curiosidade que vale resssaltar: Hamilton largou na pole, perdeu posições, terminou em terceiro, foi regular e não aprontou na pista. Nas duas corridas!

Será que pintou o campeão?

Luiz Paulo Knop
www.resenhaesportiva.com

Net Esportes disse...

@Luiz: Confirmando o domínio da McLaren no ano (que eu ainda acredito) Hamilton tem tudo para ser campeão. Não por ter sido regular e não fazer besteiras, mas porque ele corre pra vencer e o Button vence se for possível. Logo na largada o Button dividiu com o Hamilton e ficou na dele, repetindo isso no meio da corrida contra outro piloto que tava lá atrás. O Button não arrisca, o Hamilton pode por tudo a perder arriscando, mas pode ser campeão por um ponto se arriscar e der certo.