Sirenes desligadas, silêncio em meio a gritos

16:22 Net Esportes 4 Comments

O que ou quem a torcida xingava? Não aqueles que estava logo à cima, de pé, olhando atentamente tudo que estava acontecendo. Léo, o veterano jogador do Santos Futebol Clube que quer inclusive ser presidente do time quando pendurar as chuteiras, foi o primeiro a gritar desesperado em direção à um de três grandes portões que o estádio tem e que dão acesso ao gramado. Os policiais militares demoraram um pouco para entender, ninguém estava entendendo muito bem. Ele, e logo quase todos os outros jogadores, estavam pedindo uma ambulância. Com suas sirenes desligadas, ela não tinha acesso, pois havia um degrau em seu caminho. No meio dos gritos, um silêncio que durou mais do que dez minutos, e Rafael Marques nem sabia o que estava acontecendo.

Nos outros dois portões, que ficam inclusive bem mais perto de onde ocorreu o incidente da cabeçada, as chances da ambulância ter conseguido entrar rapidamente no gramado eram de quase 100%. Uma vez, por um desses portões que já foi até arrombado para uma invasão de torcedores generalizada, já entrou um carro. Era um presente para a então jogadora do time praiano Marta, a melhor do mundo. Mas a ambulância de sirenes desligadas que tenta atender os berros estava na outra rua, do outro portão, da entrada que tem um grande degrau, ou dois. Assim, após os próprios jogadores abrirem espaço em meio às placas de puplicidade e todos se darem conta da gravidade do problema, finalmente os paramédicos entraram e fizeram o devido socorro, mas com a ambulância apenas dando uma pequena ré por ali.

Não havia uma necessidade tão grande em ver a ambulância de sirenes desligadas desfilando pelo gramado da Vila Belmiro como costuma fazer o carro maca. Mas em um momento como esse é impossível não lembrar de Serginho, o jogador do São Caetano que morreu no gramado do Morumbi. Naquela ocasião, em 2004, a ambulância estava trancada, não havia desfibrilador, e de que exemplo serviu? A Vila Belmro talvez nunca tenha tido a necessidade de uma ambulância, mas seu caso é pior que o do Morumbi pois uma ambulância não tem condições nem de ficar dentro do campo. O pior na história nem é o degrau que impediu seu acesso ao gramado, e sim o laudo que aprova as condições do estádio dando como possível a entrada da ambulância pelos outros dois portões, onde a ambulância não estava estacionada.

Rafael Marques não se lembra de nada, viveu no silêncio de um dia tenso onde só se ouvia gritos e desespero um tanto exagerados. Só não se ouvia a sirene da ambulância. Poderia ter sido pior, menos mal que não foi, pelo menos Bernardo não precisou de uma ambulância. Esse é o país da Copa, esse é o estádio de uma cidade que quer ser sub-sede em 2014 e que está muito mais preocupado em fazer camarotes do que pensar que um dia uma ambulância vai precisar entrar no campo. Pelo menos devem fazer uma rampa agora no lugar do degrau. No futuro talvez a Vila Belmiro não tenha mais problema, mas será que tantos outros palcos não irão ter? O caso Serginho deve ter servido para o Morumbi nunca mais viver aquele dia triste novamente. Mas será que o caso Vila Belmiro vai impedir que o Ulrico Mursa não viva coisa pior? Ou qualquer outro estádio do Brasil? Claro que não. Um erro não justifica outro, mas ninguém aprende com erros dos outros.

4 Comentários:

Patrick Araújo disse...

Não foi só o Corpo de Bombeiros,teve pelo menos mais 2 orgãos que vistoriaram o estádio. A questão é:
1- não viram isso?, ou
2- ganharam algum ingresso gratis? ou
3- a diretoria fez essa obra depois?
olha,a COpa 2014 está ai. Não adianta gastar tubos com estádios novos e descaracteriza-los. Agora,o orgão que deu a liberação deve ter documentado o acesso ao campo com fotos. Veremos com quem esta a razão.
Abraços!

Net Esportes disse...

@Patrick: A opção 2 é ótima !!! kkkk

A antiga diretoria se manifestou dizendo que em sua época haviam duas ambulâncias e que naquele local colocavam uma "rampa móvel".

Acho que a falta de necessidade levou ao descaso conforme o tempo foi passando. Bizarro.

- disse...

Equipe do Net Esportes. Aqui é o Gabriel Tramarin do Conexão Paulista e queria dizer que eu mandei um formulário pra vocês alguns dias. Fico no aguardo da resposta.

Abraços

Gabriel Tramarin

Péssimo exemplo dado pelo Brasil. Não custa frisar que na Europa, as ambulâncias não ficam a beira do gramado, basta reparar. Mas todas tem acesso livre e fácil em caso de necessidade.

A conivência de clubes, federações e CBF me deixa cada vez mais boquiaberto.

Saudações!!!