Histórias do Ciclismo VII
Cabelos 'espaventados' em uma calvice extrema, ele usava óculos e tinha cara de cientista maluco, mas era ciclista, um esporte que no fundo é preciso ser no mínimo maluco para disputá-lo. Nos anos 80 o uso de capacete não era obrigatório mas seria bem melhor que fosse para o francês Laurent Fignon, assim ele poderia esconder um pouco seu peculiar visual que na verdade não ofuscava em nada todo o talento que possuía quando estava pedalando pelas grandes montanhas de sua terra natal. Até hoje em dia o temido Alpe d'Huez é especial no Tour de France mas em 1983 e 1984 ele foi mais do que especial para uma dos maiores competidores do ciclismo daquela época, Fignon não o venceu em nenhuma das duas oportunidades que o cume encerrou a etapa 17 nestes dois anos, mas ambas as oportunidades assumiu a camisa amarela para não perde-las mais até o final.Laurent Fignon era um talento nato do ciclismo desde muito jovem, ajudou seu companheiro de equipe Bernard Hinault a vencer a Volta da Espanha de 1983 mas o viu sofrer uma lesão antes do início do Tour de France daquele mesmo ano. O diretor da equipe não queria enviar sua melhor promessa para duas grandes Voltas tão em seguida mas acabou sendo obrigado a fazer isso pois não lhe restava alternativas sem o vencedor de quatro das últimas cinco edições da maior competição ciclística do planeta. O ciclista de apenas 22 anos na época então mostrou todo o seu potencial ao ser segundo colocado na primeira etapa de montanha, viu o então líder Pascal Simon cair e machucar o ombro e assim só lhe restava esperar a sua oportunidade. Fignon só conseguiu vencer a penúltima etapa, um contra-relógio de 50Km, seu grande dia no entanto já havia chegado bem antes na etapa 17.
O temido e sempre especial Alpe d'Huez, a mortal montanha que fez Simon abandonar a competição e que fez Laurent Fignon assumir a camisa amarela pela primeira vez na vida, a camisa que lhe vestiria até as últimas pedaladas em Paris e que o faria o mais jovem campeão desde 1933. No ano seguinte ele permaneceu na equipe Renault mas seu ex-capitão Hinault foi para a La Vie Claire e se tornou seu maior rival sobre as duas rodas. Com 23 anos de idade ele tinha muito mais experiência, venceu cinco etapas e como não poderia ser diferente assumiu a liderança que era de Vincent Barteau justamente na mesma etapa 17 como havia feito no ano anterior, mais do que isso a etapa terminava novamente no cume do Alpe d'Huez, a montanha que separa literalmente os grandes campeões dos simples sonhadores que jamais conseguiram chegar a lugar nenhum.O Giro d´Itália de 1989 e outras grandes corridas como a Milan – San Remo em duas oportunidades foram algumas das ouras glórias alcançadas por Laurent Fignon, em uma carreira que talvez o mais duro golpe tenha acontecido naquele excelente ano de 1989 quando perdeu a chance de ser tricampeão do Tour de France ao ser superado pelo norte-americano Greg LeMond por apenas oito segundos, a menor diferença em toda a história até hoje. Uma vida de glórias é sempre assim, com duros golpes ao longo dela, como neste último dia 31 de agosto quando acabou falecendo em consequência de um câncer aos 50 anos de idade. Sem antes porém fazer sua última declaração publicada em um livro - "Me encanta a vida, me encantam as boas risadas, as viagens, a boa comida. Sou um típico francês. Não temo a morte, só não quero morrer", encerrou o eterno campeão que para a história do esporte jamais morrerá. (Fotos: Gareth Watkins/Reuters e Charles Platiau/Reuters via PicApp)
1 Comentários:
cara, seu blog é um achado para os amantes do esporte como eu. não conhecia essa história, aliás, infelizmente no Brasil são poucos os esportes que tem uma visibilidade na mídia.
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