Vitória da paciência no Tour

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De um lado um Schleck e do outro mais um Schleck. No começo da última etapa quando demonstraram reconhecimento pelo título de Cadel Evans, no alto do pódio antes que o hino australiano fosse interpretado de forma belíssima, no mesmo momento em que a bandeira da Austrália era asteada e também envolvia o corpo do campeão de emoções contidas. Era difícil, mas às vezes Evans esboçava um sorriso em seu rosto 'quadrado', qualquer semelhança com o ator Dennis Quaid é mera coincidência. Frank Schleck deixou de ser apenas o quinto colocado, chegou em terceiro, chegou próximo do seu irmão Andy que amargou a segunda colocação pela terceira vez consecutiva. A chance de pular da camisa branca para a amarela era grande, seus desempenho foi tão grande quanto, mas não tão gigante quanto o de Cadel Evans, que finalmente viu sua estratégia dar certo.

A história toda começou com títulos no Tour da Tasmania, no Tour of Áustria, mas era pouco, e poucos sabam que o que valia mais nessa época era o título no contra-relógio dos Jogos da Commonwealth. Em 2006, após vencer o Tour de Romândia, Cadel Evans chegou na quarta colocação do Tour de France, ainda era cedo para alguém supor que um astraliano iria brilhar na maior competição ciclística do mundo. Austrália até então significava apenas Robbie McEwen, Baden Cooke, campeões por pontos e donos das camisas verdes. A dúvida, no entanto, acabou em 2007 e 2008, quando o ciclista chegou na segunda colocação, perdendo para Alberto Contador e Carlos Sastre, se tornando uma ameaça e ao mesmo tempo um azarado, um fracassado, um competidor que (principalmente pelos resultados nos dois anos seguintes e idade aumentando), jamais iria chegar lá. Todos estavam errados, sua estratégia apenas parecia errada.

Greg LeMond conseguiu a façanha de vencer o Tour de France apenas no último dia, na prova de contra relógio. Talvez nem fosse por isso que Cadel Evans tenha adotado a estratégia de tentar o título na etapa individual, mesmo porque o feito do americano foi em 1989, na última vez em que o contra relógio aconteceu na última etapa. Mas a idéia do australiano era boa, ele passou perto em 2008 depois de quase ter conseguido um ano antes. Ser bom de contra relógio é fundamental para um campeão do Tour de France, porém não é tão emblemático do que conseguir uma vitória nas etapas com subidas, nas montanhas, vencendo um Galibier ou um Alpe d´Huez. Andy Scheleck foi extremamente competente na etapa 18, preciso na etapa 19. Mas Evans estava sendo mais, ele tinha a sua carta na manga, ele podia se dar ao luxo de uma defesa sem ter a camisa amarela, ele sabia que podia ganhar o título no contra relógio como quase ganhou em 2007 e 2008.

Chega de ser vice-campeão, a vida mudou depois do título mundial em 2009. Cadel Evans aos 34 anos de idade finalmente consegue realizar um sonho que havia ficado tão distante nos dois últimos anos, que havia passado tão perto quando tinha uma estratégia bem planejada, que enfim deu certo nesse ano de 2011. A terra do canguru pode comemorar uma conquista inédita, uma conquista que poucos ainda acreditavam que poderia acontecer, assim como a conquista de Mark Cavendish na classificação por pontos, com mais uma vitória em Paris que finalmente corou sua perseverança tão grande quanto a insistência de Cadel Evans. "Às margens do Sena, junto a Maison De La Radio" como diria Reali Júnior na Jovem Pan. Na Champs-Élysées, o desfile dos campeões com o Arco do Triunfo ilustrando a bela cena, a cena que Andy Schleck quer viver um dia, a cena que Cadel Evans conquistou por ser insistente e acima de tudo paciente para esperar o seu dia chegar e sua idéia lhe render o título. (Foto: AFP PHOTO / LIONEL BONAVENTURE via Getty Images)

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