O equilíbrio que se esvaiu antes da hora
Depois de quatro anos consecutivos, em 2014, a Red Bull enfim viu seus carros terem suas asas cortadas. Sebastian Vettel havia conquistado quatro títulos em sequência na escuderia dos energéticos, mas se viu apenas com a quinta colocação quando a Mercedes se tornou a equipe com o melhor carro na pista. Assim como a Ferrari dominou por tantos anos com Michael Schumacher e assim como quase sempre acontece na Fórmula 1. Lewis Hamilton, que havia deixado a McLaren com quem fora campeão em 2008, tinha a chance de fazer o mesmo que Vettel, ganhar quatro títulos em seguida, afinal não havia equilíbrio, apenas domínio. O inglês, no entanto, esqueceu de avisar seu companheiro de equipe sobre o plano em 2016, assim como Schumacher costumava fazer com Rubens Barrichello.
Mesmo ganhando quatro corridas seguidas duas vezes, Hamilton ficou cinco corridas seguidas sem alcançar o ponto mais alto do pódio outras duas vezes também em 2016. Em um ano amplamente dominado por apenas uma equipe, esses resultados ruins (incluindo dois abandonos) foram determinantes para que sua sequência de conquistas fosse interrompida pelo seu companheiro de equipe Nico Rosberg. O ano de 2017 chegou, mas com ele veio uma nova surpresa: A Mercedes não era mais uma unanimidade na Fórmula 1. A Red Bull se recuperou e voltou a colocar suas asinhas de fora. Se não bastasse, a categoria máxima do automobilismo ainda viu um ressurgimento da Ferrari, que por tantos anos se viu adormecida e esquecida nas trevas de algum mundo perdido.
Os mais saudosos ainda sonham em ver não só a Ferrari brigando pelo título, mas também a McLaren e a Williams alcançando o pódio juntas novamente. Porém, mesmo sem essa possibilidade voltando a ser realidade, os fãs se animam com um campeonato mais equilibrado. Três equipes com chances de vitórias, dois pilotos brigando diretamente pelo título em equipes diferentes. As corridas ficam mais agitadas e emocionantes, seja em dias de chuva ou não. Colisões e abandonos, o safety car é chamado e um carro bate na traseira do outro. Vettel perde a cabeça e a Fórmula 1 tem até briga de trânsito. Dos seis primeiros colocados no campeonato, que se dividem nas três melhores equipes, apenas Kimi Räikkönen não conseguiu vencer. O pódio viu até Lance Stroll, da Williams, naquele conturbado GP do Azerbaijão.
É um campeonato muito melhor e mais agitado que os últimos seis anos, talvez. Não chega a ser como em 2010, que viu quatro pilotos brigando pela conquista na última corrida, mas mesmo assim já serve como esperança de menos monotonia na Fórmula 1. As equipes brigam para ter Carlos Sainz no cockpit. Um francês e um mexicano arrojado levam a Force India ao posto de quarta melhor equipe do ano. A Hass consegue ser melhor que a McLaren e um piloto com sobrenome Verstappen consegue vencer corridas. É um equilíbrio interessante, com disputas acirradas e uma briga intensa pelo título, com atritos e muitas polêmicas. O que ninguém esperava, no entanto, era ver todo esse equilíbrio animador se esvair muito antes da derradeira hora final.
Um dos diferenciais de Hamilton neste ano, em relação ao ano passado quando perdeu o título, foi manter um equilíbrio nos resultados e não abandonar nenhuma corrida. Em Mônaco teve um resultado ruim, sendo apenas o sétimo colocado. Antes do GP do México, havia ficado fora do pódio cinco vezes, mas, mesmo que não tenha ficado em terceiro lugar nenhuma vez, ele não abandonou nenhuma corrida. Vettel fazia o mesmo, e por isso o campeonato era tão bom e equilibrado, mas na sequência de Singapura, Malásia e Japão foram dois abandonos e apenas uma quarta colocação. Nesta fase do campeonato o piloto inglês havia encaminhado três vitórias seguidas, sendo que até então ele não havia conseguido nem duas. Conseguiu mais um segundo lugar e venceu no Japão, quando praticamente colocou as mãos na taça.
O ano equilibrado se esvaiu e a conquista ficou fácil de mais, chegando quando ainda restavam duas corridas para o final da temporada. No ano que Lewis Hamilton superou seu ídolo Ayrton Senna em número de pole positions, na GP do Canadá, quando ganhou um capacete igual ao que o brasileiro usava e não conseguiu segurar as lágrimas. Desta vez não havia companheiro de equipe para atrapalhar, e o rival da Ferrari ficou para trás. Hamilton então chegou ao seu quarto título na carreira, mais uma vez superando Ayrton Senna. Na sua frente restam apenas Juan Manuel Fangio, com cinco conquistas, e Schumacher, com sete. Quem sabe no ano que vem a quinta taça não venha, seja com domínio ou equilíbrio, pois o que mais importa nessa equação e pelo menos ter emoção.
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